Sobre a mesa, blues
Por Laura Assis
Tirei as luvas, deixei sobre a mesa
Te enxerguei sob a lua acesa
Junto ao balcão, escolhi a bebida
De longe você me escolhia pra vida
De você, tudo eu ignorava
Apenas olhando, me devorava
Para a frente do palco eu me dirigia
E você nada sutil me perseguia
Tocou meu braço como quem nada quer
“Qual o seu nome, mulher?”
Diamantes, discos e muita fumaça
Não há nada que eu queira e você não faça
A tua pele quase negra em contraste
E a minha implorando “não se afaste”
Os pés na poeira se distraíam
Enquanto meus olhos me traíam
Dançamos blues naquela noite de lua
Depois nos beijamos no meio da rua
E o mundo ficou pequeno demais
Pra quem já não se largava mais
O sal, o suor e aroma de sândalo
Em silêncio, tudo era escândalo
A delicada força do teu corpo
A última gota de cada copo
E acordei com o sol brilhando
Sob os tecidos da cortina voando
Não quis abrir os olhos sabendo
Que se sonhava, acordaria sofrendo
Na ausência tão sofrida
De uma presença deliciosamente dolorida