Procura por mamografias e exames para detecção de câncer cai durante a pandemia
Mais de 1,5 milhões de mamografias deixaram de ser realizadas no Brasil durante a pandemia
Durante o período de pandemia da Covid-19, mais de 1,5 milhões de mamografias deixaram de ser realizadas no Brasil. Os dados foram apresentados durante uma audiência pública no último mês como parte da campanha “Outubro Rosa” do Congresso Nacional.
O debate foi promovido pela Comissão Especial de Combate ao Câncer no Brasil e pelas Comissões de Defesa dos Direitos da Mulher e de Seguridade Social e Família e a Secretaria da Mulher, com medicação da deputada Silva Cristina (PDT-RO).
Entre os convidados estava a fundadora e presidente do Instituto Oncoguia, Luciana Holtz, apresentou o radar do câncer de mama no país. “Hoje, são 63 mil casos e a pandemia agravou o rastreamento e a prevenção. Foram registrados 1,6 milhão a menos de mamografias e queda de 39% no número de biópsias. Por outro lado, destaco que nos últimos dez anos, o Brasil não conseguiu atingir sequer 30% da meta de exames para o grupo de mulheres de 50 anos de idade”, apontou.
A especialista também explicou que o índice do aumento do câncer entre jovens cresceu, atingindo a marca de 33% das ocorrências. Outro levantamento revela que 56% das mulheres negras que iniciam o tratamento já estão com o câncer em estágio avançado. “É importante monitorar a situação e, paralelo a isso, implementar ações para a retomada dos atendimentos em Oncologia. Precisamos também conscientizar as pacientes para minimizar os riscos, pois estamos sujeitos a uma epidemia de casos avançados de câncer no Brasil, alertou”.
Daniele Xavier Assad, médica membro do Comitê de Mama da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), chamou a atenção para o acesso à mamografia: “A cobertura em 100% para a prevenção ao câncer de mama nunca ocorreu no País, com ou sem pandemia, mas atualmente, a de mamografia caiu 42%. O número já era ruim e, agora, está aquém do necessário para a prevenção. A recomendação da mamografia é aos 50 anos, mas hoje, apoiamos que seja mais cedo, a partir dos 40. Outro ponto a considerar é a incorporação das novas tecnologias ao serviço público de saúde (SUS), e medicações como inibidores de ciclina, que comprovadamente garantem mais qualidade de vida às mulheres”, disse.
Para o chefe da Divisão de Detecção Precoce de Câncer do Instituto Nacional do Câncer (INCA), do Ministério da Saúde, Arn Migowski Rocha dos Santos, há aspectos positivos e negativos a partir da pandemia: “Tivemos queda de exames para rastreamento e diagnóstico. No entanto, tivemos alguma melhora no SUS, com o aumento de procedimentos de quimioterapia, diminuição de tempo de diversos exames de rastreamento e do tempo entre diagnóstico e tratamento”, relatou.
Segundo dados do médico, cerca de 41% dos países narraram que interromperam os exames em razão da pandemia. Entre maio e julho, os números absolutos de investigação diagnóstica tiveram maior queda. Para ele, as estratégias de diagnóstico precoce ainda são a conscientização (o conhecimento do próprio corpo), a identificação de sinais e sintomas e a confirmação diagnóstica nos casos suspeitos, que devem ser realizados em um único serviço, no menor tempo possível.
Ainda durante audiência, uma paciente oncológica do SUS, Maria Doralice Foching, deu seu testemunho sobre a doença: “Fui diagnosticada em outubro e logo fiz exames em clínicas particulares. Na sequência, me dirigi ao posto de saúde, onde me encaminharam para o tratamento. Iniciei a quimioterapia e me senti muito acolhida pela equipe médica, embora tenha sido um momento doloroso e assustador. Precisamos de mais médicos e tratamento mais humanizado para nos assistir, porque isso faz muita diferença. Fiz a cirurgia e tirei a mama direita e, por direito, coloquei a prótese. Hoje, ainda estou em tratamento, e o que posso dizer às pacientes oncológicas é: tenha coragem”, declarou.
Com informações da Câmara dos Deputados