• Poesia de buteco

    Por Clarice Lopes

    ei garçom, desce mais uma gelada!

    eu sei que já bebi demais,

    mas é que eu cai numa cilada…

    Eu bebo porque tenho saudade,

    porque é uma necessidade.

    Se o coração fosse casa

    eu mudaria a morada,

    eu trocaria toda a faixada.

    E se nada desse certo,

    eu faria minha retirada.

    Só pra te contemplar de qualquer sacada.

    Eu vejo tanta gente

    com um olhar caído,

    com um jeito reprimido

    e sempre, tão deprimido…

    Eu também vejo beleza onde

    o caos está instalado,

    onde o amor não pode mais ser cantado.

    Eu vejo beleza até mesmo na ausência,

    cor nessa mera existência

    e nessa vida boêmia que me acompanha com tanta insistência.

    Mas só enquanto esse copo durar.

    Depois que acabar,

    a realidade com certeza vai me atacar

    e dar um daqueles choques que só ela sabe dar.

    Mas é que eu já tenho carregado

    tantas ressacas

    que me embriagar já passa a ser

    um dever,

    um antídoto pra dor do viver.

    Tanto, que precisei beber pra te escrever.

    então.. Garçom, por gentileza,

    traz mais uma gelada.

    Essa é pra comemorar o insistir do existir.

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