Ofício de encorajamento
Por Felipe Correia
Que a maldade do mundo
Não te faça esquecer que você é bom
É que quanto maior o voo, maior a queda
O problema de voar pela primeira vez
É que a ordem do piloto de colocar o cinto nos faz pensar que estamos protegidos e que na pior das hipóteses um colete pode nos salvar.
Nos esquecemos que não existe defesa contra picos de montanha, mau tempo, e comunicação deficiente com as torres
Vemos pessoas caindo todos os dias
Mas a boa notícia é que várias delas sobrevivem
Algumas escrevem livros e aparecem em programas de TV
Outros viram garotos propaganda de alguma agência bancária
Quando chegar sua vez de cair, desejo que torne a alçar voo
Mas que seja como vaga-lume
Brilhando de forma inconfundível até pra crianças, seja de idade ou a interior
Só quem é mau esbofeteia vaga-lumes
Então não fique triste se tombar mais uma vez
Já vi borboletas serem mortas para enfeitar páginas de livros
Aliás, não retroceda em sua metamorfose, mesmo que alguns não reconheçam seu esforço e o tratem como lagarta.
No jardim guardado que todos têm, sim, eu acredito! Você é a borboleta que inspirou Vinicius de Moraes
Ainda rogo pra ti, a beleza, a juventude eterna e o entusiasmo de Dorian Gray
Sem o disparate de encantar em público e ser, no fundo do porão, um quadro mofado, podre e digno de vergonha.
Entre voos e pousos, tombos e recomeço
Recuso-me a afundar.
Cordialmente
De: Eu
Para: Mim