• O pássaro azul

    Por Isabella Paolucci

    Eu sempre pensei em mim como alguém incapaz de viver em uma jaula.

    Ainda que não gostasse de voar tão alto e para tão longe, me mantendo sempre próximo ao ninho, eu apreciava minha liberdade de maneira diferente dos meus irmãos. Nunca me interessei por voos em grupo no meio da noite, daqueles que duravam várias horas. Não, eu preferia aproveitar da minha própria companhia, fazendo coisas as quais eram importantes para mim. Eu me divertia à minha maneira. Algumas vezes sabia que me faria bem estar acompanhada, outras sentia-me melhor quando estava solitário.

    Um certo dia, no entanto, fui capturado e colocado em uma jaula. Aquele que me colocou lá fez o possível para que se parecesse com o meu cantinho sobre a árvore e por esse motivo não me importei muito no início. Eu ficaria bem, estava sendo alimentado e tendo notícias dos meus irmãos de longe, já que sempre conseguiam uma maneira de me contar como estavam através do canto que eu ouvia ao longe.

    Era tão familiar que por pouco me esqueci que aquela era apenas uma fração, uma parcela do que um dia tive.

    Mas eu não podia mais sair. Mesmo que não o fizesse muito, aquela escolha havia sido tirada de mim e isso não era justo.

    Então, ainda que minha rotina ainda fosse a mesma, ainda que as grades daquela nova casa me permitissem ver o que acontecia no mundo exterior, saber o que se passava com os outros, tudo começou a ficar sufocante.

    Eu queria sair.

    Eu queria voar.

    Eu queria ver, conhecer, tocar meus irmãos e ouvir seu canto pessoalmente, não apenas um eco.

    No momento ainda estou aqui, esperando pelo momento em que isso irá acontecer, mesmo que alguns insistam que eu não seja capaz de viver por mim mesmo no mundo exterior, que já esteja tão acostumado com a monotonia que a adaptação não seja possível, eu sei que viverei melhor.

    Viverei melhor pois saberei apreciar minhas possibilidades.

    Voarei para longe, para o alto, mas apenas se essa for a minha vontade.

    E ainda que muitos digam que uma vez que você tenha sido aprisionado é impossível sair, ver a luz do sol e sentir o vento tocar o seu rosto, há uma garotinha que sempre vem até a minha jaula, minha tão bela jaula, todos os dias quando ninguém está vendo e diz que em algum momento serei livre outra vez.

    “Quando ninguém estiver olhando, irei te soltar”, ela sussurra baixinho apenas para mim, “e então você poderá conhecer o mundo se assim quiser”.

    E assim será feito.

    Em algum momento serei liberto.

    Em algum momento todos nós seremos.

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