O mundo encantado da internet
Por Thaís Abreu.
Quem viveu na era da bolinha de gude, do futebol de campo com os amiguinhos, das bonecas espalhadas pela sala, viveu em uma época linda e bem menos tóxica. Eu posso dizer isso com propriedade porque o máximo de virtual que minha infância teve foi o Tamaguchi (bichinho virtual que era tipo um chaveiro, onde alimentávamos, brincávamos e cuidávamos até “morrer”). Eu vivia com o pé no chão, adorava escrever cartinhas, brincar de pique esconde até tarde com os vizinhos e depois, na adolescência, gostava de reunir com os amigos na porta do prédio, responder testes de revista e ouvir música no rádio ou no discman. Quando eu vejo as crianças e os jovens de hoje, eu percebo como eles estão pobres de coisas essenciais e de valores reais.
As crianças se preocupam com os blogueiros mirins, com jogos virtuais e as amizades reais podem ser contadas nos dedos. Elas passam muito mais tempo em frente ao celular vendo conteúdos supérfluos do que com os pais, irmãos ou amigos conversando. Boneca, carrinho, jogos de tabuleiro são quase raros de se ver, desde cedo a cultura já é celular. Vemos inclusive, bebês dependentes de telefone. E quanto aos adolescentes é a mesma coisa, em um grau pior, de vício. Adolescentes que se espelham em um mundo virtual totalmente idealizado para você ter o melhor corpo, o melhor cabelo, ser o mais popular e se você não for automaticamente está fora dos padrões.
Eu não sou mãe ainda, tenho sobrinhos para usar de parâmetro nessa análise e sei como eles já são dependentes, por mais que os pais insiram atividades no dia. Estamos em uma era virtual que não dá para regredir. Precisamos ter a cabeça centrada para guiar as futuras gerações e tentar resgatar pelo menos um pouco da sutileza e da beleza do mundo real, que por mais que tenha percalços segue sendo mais encantado que o mundo virtual.
Não queremos criar uma geração de pessoas ansiosas e que busca a aprovação através de curtidas, comentários e seguidores. Precisamos criar uma geração que entenda o valor do olho no olho, da palavra de amizade e motivação, da conversa com a família entorno da mesa e do crescimento na base da luta e da determinação de alguém que não fica só parado vendo a vida acontecer, através de uma tela de celular.