O boi de pedra – Uma história de Barbacena
Por Marcos Faria
Falavam que era na quaresma que ele atacava, mas eu criança nem compreendia o espaço de tempo de datas e eventos religiosos, mas sabia bem que em algum momento do ano eu não poderia dar bobeira passando na frente do antigo frigorífico pois o boi de pedra que ficava na fachada daquele imenso prédio abandonado costumar ganhar vida e “descer” para perseguir os desavisados.
Esse “conto” era provavelmente para afastar as crianças do antigo frigorífico, que na verdade foi outrora um matadouro, cuja história eu já pesquisei e não encontrei nada, restando então somente as informações vagas em minha memória…
De dia, o lugar já não era um passeio sadio, mas o espírito aventureiro de uma criança fala mais alto e contornávamos o imenso prédio em ruínas e as vezes até entravamos naquele lugar sinistro. Não sei se minha pequenez fazia o lugar ser maior do que era, mas na minha memória, os cômodos eram colossais.
Aquele vigia de pedra estava alto o bastante para observar a todos que adentravam no terreno, exceto pelo ponto cego que era o lado por onde eu entrava, talvez por isso eu não tinha tanto medo, eu mal o via ou reparava sua existência, até que um dia ao ser reprimido pela minha família sobre andar naquele local abandonado, fui confrontado com a história daquele boi de pedra, que descia e corria atrás das pessoas.
Lembro me bem do dia que adentramos o lugar e saímos na laje para brincar e fui até a parte onde ele estava, debrucei me na marquise e pude tocá-lo! Para que todos os mitos na minha cabeça infantil desmoronassem, ele era só pedra nada mais, a imagem de um boi moldada no concreto.
Eu não tinha mais medo desde este dia, quando o toquei na laje do antigo frigorífico, mas a aura de terror que o lugar transmitia a noite ainda era de assustar. De dia, eu podia brincar sem medo, mas a noite, não tinha a coragem de subestimar aquela criatura de pedra, na verdade, a criançada toda que brincava nesse horário nem cogitava ir lá.
A última vez que o vi, foi quando demoliram o prédio. Logo após dinamitarem o lugar, as pessoas iam no meio dos escombros buscar tijolos que ainda fossem bons, mas nós crianças só íamos para nos aventurar novamente por aquele lugar, agora esparramado ao chão como um castelo de peças de brinquedo. E assim, encontramos o chifre do boi, sei lá por que corremos carregando aquilo de um lado para o outro mostrando para todo mundo como se fosse um troféu.
Foi como se fosse uma vitória sobre um monstro, mas na verdade era só literalmente a ruína de um mito…