• Nove

    Por Isabella Paolucci

    Você já pensou sobre como gostaria de ser lembrado?

    Já pensou sobre o impacto que causa na vida dos outros?

    Será que aquela pessoa que ficou no passado ainda se lembra do dia em que o conheceu? E se sim, acha que ela recorda aquele momento com carinho? Arrependimento, talvez? Você já refletiu a respeito da maneira como está impactando a vida daqueles que estão ao seu redor?

    Às vezes me faço essas perguntas para as quais nunca terei uma resposta e penso que talvez, para aqueles que por algum motivo não estão mais aqui – seja por opção ou não – seria mais viável ser completamente apagada.

    Que não restasse nenhuma memória.

    “Apagar as memórias boas também?”, você questiona.

    Sim, uma vez que elas apenas reforçam aquilo que nunca poderá retornar.

    Seja por opção ou não.

    E talvez sendo esquecida, eu não precise mais pensar no que você ainda pensa das minhas ações. Se as está acompanhando ainda que de longe. Se espera que eu falhe miseravelmente ou chegue aos dias de glória.

    Porque essa sou eu, uma completa idiota sim.

    Me reduzindo a insignificância, até.

    Na maioria das vezes, sendo metade de mim mesma. Foi assim durante mais da metade da minha vida e pode ser que nunca mude. Sempre me esforçando para ser mais gentil e me esquecendo de ser inteligente e até mesmo pensar por mim mesma.

    E devido a essa preocupação, privo-me das minhas vontades. Seria certo gritar? Daria certo se me apaixonasse? É certo batalhar agora? Devo me levantar? Devo me esconder? Qual a atitude correta? O que você acha que deve ser feito?

    Nunca o que eu acho que deve ser feito, no entanto.

    Sempre passiva, nunca agressiva.

    Acho que na verdade estive esse tempo todo tentando me encontrar através dos olhos de outra pessoa, quando na verdade deveria ser pelos meus próprios, através da minha perspectiva.

    E o pior de tudo isso na verdade mostra-se no fato de que estou ciente dessas falhas, me culpo por elas também.

    Mas como me perdoar?

    Algo em meu interior me diz que um grande passo é acordar e me entregar ao que realmente sou.

    Despertar.

    Me apaixonar de novo e de novo e quantas vezes eu quiser.

    Dançar na tempestade com o meu melhor vestido se assim desejar.

    Ser destemida.

    Ser corajosa o suficiente para declarar guerra à gravidade caso um dia essa seja a minha vontade.

    Lutar pelas coisas que acredito valer a pena.

    E neste momento faço uma promessa a mim mesma. Com os mindinhos entrelaçados juro dar um passo de cada vez, me impor quando necessário e dessa forma ser fiel a única pessoa cujas opiniões realmente importam. E então me jogo do precipício, alcançando as estrelas.

    Agora, não quero mais ser esquecida, pois já não me importo mais.

    Experimento então esse sentimento diferente e desconfortável após tantos anos mantendo a verdadeira essência em uma gaiola, observando tudo ao longe e calando-a devido a incerteza de que talvez o que eu tivesse a dizer não fosse bom o suficiente, inteligente o suficiente.

    É desconfortável, mas certo.

    E talvez agora a minha maior vontade seja conhecer e amar não só a mim, mas os outros também.

    Ainda que seja difícil, permaneço despreocupada com as minhas escolhas. E então, deito-me na cama e me entrego ao sono enquanto a música nove toca em meus fones de ouvido.

    E ela é a última coisa de que me lembro quando penso no dia em que dei-me o valor certo.

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