• Inhotim completa 15 anos nesta terça-feira

    O Inhotim vai celebrar o seu aniversário com uma exposição especial, que une luto, perda e superação

    POR DÉBORA COSTA – CBN

    Entre linhas e agulhas dos bordados, mais de 70 mulheres de Brumadinho, na grande Belo Horizonte, encontraram uma maneira de enfrentar a dor e o luto, após o rompimento da barragem da Vale, em 2019. Todas elas foram atingidas de alguma forma pela tragédia, principalmente pela perda de entes queridos e, desde então, todo esse sofrimento tem sido transformado em arte. As obras e os trabalhos produzidos por essas vítimas serão reunidas em uma exposição no Inhotim. O maior museu a céu aberto do mundo completa 15 anos neste mês e abriu espaço pra essa mostra, que integra as comemorações.

    A exposição reúne 14 painéis, 44 mandalas e 18 peças variadas produzidas pelas bordadeiras. Elas são alunas do projeto Semeando Esperança, iniciativa da Fundação Vale e do Instituto de Promoção Cultural Antônia Diniz Dumont. Um dos quadros é da bordadeira Maria Aparecida da Silva Soares, de 57 anos. Ela ingressou no projeto após a morte do irmão no rompimento da barragem. Maria conta que também perdeu o modo de vida no Córrego do Feijão e todo esse sentimento foi representado por ela no bordado.

    “Cada um desenhou e bordou aquilo que estava sentindo. A vida antes da tragédia, depois, como é que ficou. Eu mexia com agricultura, aí contaminou tudo e a gente perdeu tudo. Na época, eu bordei e pintei uma horta, também desenhei a igreja (de Córrego do Feijão). Eu desenhei e bordei da minha imaginação. Isso ajudou muito, quase 100% a gente sair daquele poço negro que a gente estava”.

    A bordadeira Ivaneth de Fátima Amorim, de 52 anos, também terá um trabalho em exposição no Inhotim. Ela produziu várias mandalas durante as aulas do projeto. Ivaneth relata que o ex-marido dela trabalhava como terceirizado na mina da Vale e por sorte conseguiu escapar do desastre, mas vários amigos da família morreram. Apesar de todo o trauma, ela se sente feliz por ter a sua história compartilhada em uma mostra no museu.

    “É dolorido e alegre ao mesmo tempo, porque você através de uma dor, você começa a ter momentos mais alegres, porque eu nunca sonhei com uma coisa dessas, ter uma obra minha no Inhotim, um grande museu. Mas eu fico muito contente, muito feliz e guardo na memória os momentos felizes também que eu tive com as pessoas que se foram”.

    A coordenadora do projeto pelo Instituto de Promoção Cultural Antônia Diniz Dumont, Sávia Dumont explica que o próprio Inhotim fez o convite para a exposição, após tomar conhecimento do trabalho das bordadeiras, que através da arte ressignificaram suas dores.

    “O objetivo maior é esse: fazer o trabalho de superação, de busca de aumento de autoestima, de autoconhecimento e de superação de todas as tristezas, por meio do bordado. E surgiu essa oportunidade de fazer essa exposição em Inhotim e foi muito legal porque eles mesmo reconheceram a importância da proximidade das pessoas no Instituto Inhotim”.

    A exposição Histórias do Vivido – Sementes da Esperança pode ser conferida entre 16 de outubro e 22 de dezembro, no espaço do Centro Educativo Burle Marx, no Instituto Inhotim.

    Desde 2019, as alunas do Semeando Esperança já bordaram mais de 520 peças. Até o fim do ano, estão previstas mais duas turmas, podendo chegar a 120 artistas bordadeiras atingidas em Brumadinho.

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