Do fim ao início
Por Gian Henriques
E se eu contasse uma história começando pelo final. Faria algum sentido?
Hoje me perdi em meus pensamentos imaginando tudo que seria diferente se ele ainda estivesse aqui.
Eu teria trilhado esse caminho? Eu teria feito as mesmas escolhas? Quais seriam seus conselhos? Eu ainda teria os mesmos medos?
A 11 anos atrás ele se foi. Após uma luta curta, porém feroz contra a doença que lhe acometeu, a batalha finalmente terminou.
A última vez que ouvi sua voz me marcou, com um recado simples que levo pra minha vida em cada momento difícil: “Mete bronca”.
Não consigo dizer que ele perdeu a luta, afinal de contas em um confronto tão difícil, onde seu oponente foi implacável,
jamais abaixar a cabeça, sustentar seu sorriso no rosto e seguir dizendo “vai ficar tudo bem”, pra mim é sinal de vitória.
Dois meses antes descobrimos essa doença. Naquela época já percebi que talvez tenha sido tarde demais.
A vida prega essas peças em nós. Se soubéssemos que em um intervalo de dois meses aquela pessoa não estaria mais ali, será que teríamos aproveitado mais?
Então pensei no que veio atrás. Não me recordo dos momentos ruins, ainda que eu tente. Não me recordo das brigas, ainda que tenha chorado no dia.
E a parte que as vezes machuca, é que lembrar somente das coisas boas nos traz saudade. E novamente fiquei pensando: era possível aproveitar mais?
Não posso dizer que foi uma infância perfeita, com uma família perfeita, e que não havia ali os defeitos de cada um de nós.
Mas não seria justo dizer que podia ser diferente. Porque no fim, cada segundo valeu a pena.
Porque, sempre que me recordo, percebo, talvez tarde demais, que cada momento vivido, formou a pessoa que sou hoje.
E mesmo agora após tanto tempo, eu procuro em meu íntimo, qual seria seu sábio conselho.
E pensando em tudo que a memória me permitiu lembrar de meu amado pai, correndo na linha do tempo do fim para trás eu me perguntei:
E se eu contasse uma história começando pelo final. Faria algum sentido?