Day after day
Por Laura Assis
Esquecer um amor nunca é fácil!
Principalmente se for um amor que você sempre quis sentir, se for um sentimento pelo qual você esperou por muito tempo, até quase pensar que ele não existia…
Nesse processo de esquecimento, que podemos comparar ao luto, existem dias fáceis e dias difíceis. No começo, quase todos são difíceis, mas aos poucos vão surgindo uns dias mais leves no meio da tormenta e a gente começa a enxergar uma luz no fim do túnel. Claro, cada caso é um caso, cada amor é um amor. E pra cada amor, existem estágios diferentes, dias que atravessamos que são muito peculiares para cada um de nós, pois cada história de amor tem as suas respectivas dificuldades a serem superadas. O pior de tudo é quando a gente não tem mais a pessoa amada – ou nunca teve – mas não consegue abrir mão do sentimento. “Mas é um sentimento tão bonito, me faz sentir uma paz tão grande pensar que ele possa se concretizar…” e assim vamos nos enchendo mais e mais de ilusões e consequentes decepções. Algumas vezes, a questão não é apenas não querer se desligar, jogar fora o que sentimos. Veja o meu caso: eu já tentei de todas as formas possíveis, já fiz tudo o que podia para quebrar esse amor em meio milhão de pedacinhos, mas ele permanece intacto aqui dentro de mim. Ele permanece mesmo me fazendo sofrer.
Já o mandei embora, já joguei na parede, no lixo, escada abaixo. E ele volta, sem vergonha alguma e faz morada no meu coração. Já procurei ajuda na terapia, na magia, na religião, na filosofia, no budismo e no hinduísmo. Já vi coisas que me machucaram tanto que eu pensei “pronto, agora esse amor morre de uma vez”. E, de fato, ele desaparecia por algum tempo, pra depois surgir agonizando à minha porta e, por mais que eu trancasse, colocasse os móveis segurando a porta, quando dava por mim ele estava aqui dentro e eu, sinceramente, não sei o que devia fazer. Me pergunto dia após dia, porque ele permanece aqui diante de tanta indiferença, diante de tanta frieza, mas eu não sou capaz de explicar. Eu não consigo compreender como ainda posso sentir esse amor por alguém que declaradamente não o quis. O engraçado é que eu sempre soube lidar com rejeição. Pra mim sempre foi muito fácil: quer, bem, não quer, amém. Simples assim! Já procurei nos livros, no google e até na Bíblia, mas eu não encontro uma simples resposta para a pergunta que me faço todos os dias: porque eu continuo amando alguém que não me quer? Cheguei a pensar, por tudo que andei lendo aqui e ali, que seria falta de amor próprio. Mas veja bem, esta semana um amiga disse que me inveja porque, segundo ela, eu tenho um caso de amor comigo mesma. Ok, amor próprio está fora da lista.
Então, eu pensei: carência! Óbvio, gente, carência! Mas eu me sinto tão bem sozinha! Não sou dessas que precisa desesperadamente ter alguém para ser feliz. Beleza, descartei a carência. Minha terapeuta me perguntou se eu enxergava nele um reflexo de tudo aquilo que eu sinto. Não! Não enxergo nele nada do que eu sinto. Não enxergo nele vontade de cuidar de mim quando eu estou mal. Não enxergo nele vontade de me abraçar pra dormir ou no cinema. Não vejo nele a menor vontade de fazer coisas incríveis comigo. Ok, ela também errou. E sabe, eu ando cansada de procurar as respostas, de tentar expulsar esse sentimento, de criar mil historinhas onde eu sou uma mulher já apaixonada por outro homem e esse cara já é passado. Mas eu também não posso passar por tudo outra vez, obviamente, porque toda a indiferença dele teve muitas consequências, algumas quase catastróficas. Eu também já tentei fingir que não estou vendo esse amor aqui, sabe, fazendo a egípcia? Pois, é. Essa egípcia enxerga muito bem esse amor, onde quer que ele se esconda.
Ontem eu saí com um amigo e ele me disse “relaxa, o que não tem remédio, remediado está”. E por algumas horas eu fiquei me sentindo confiante, novamente bem como se “ok, se esse amor quer ficar aqui, que fique, eu não estou nem aí”. Mas eu acordo e vem a realidade e pronto: tapa na cara. Não! Não é assim! O que não tem remédio blá blá blá pode servir pra outras coisas, mas não ajuda em nada nesse caso aqui. Porque tem dias que tá tudo lindo: o sol brilhando, o vento fresco, a cerveja gelada, os amigos sorrindo, a família feliz, meu cabelo maravilhoso… e meu coração dando pulinhos como essas crianças que voltam da padaria com doce na mão.
Mas, cara!! Tem dias, como hoje, que é um baita pesadelo! Eu sinto aquela ausência esmagando meu pulmão. E ela faz o sol ir embora, os amigos dormirem, a cerveja fica quente e nem o meu cabelo me ajuda! O ar fica parado, pesado. Cada pedacinho de carne do meu corpo fica trêmulo. Respirar é uma tarefa complicadíssima!! Dá pra viver assim? Bom, até agora deu… mas até quando dá pra levar assim? Até quando eu consigo sentir a presença deste ser ausente e não permitir que ela esmague meu pulmão? A falta de ar é inacreditável quando acontece isto e o pouco que me sobra escorre pelos olhos. Hoje é um dia difícil. Espero que amanhã tenha sol outra vez!