Assassin´s Creed Origins e a redenção da famosa franquia da Ubisoft
Por Flávio Maciel.
O ano de 2014 foi um grande momento para os games. A nova geração havia chegado um ano antes com o Xbox ONE e PlayStation 4 e a expectativa para os lançamentos que iriam aproveitar o grande potencial das novas máquinas era grande. A francesa Ubisoft mostrou na E3 daquele ano seu novo capítulo da série Assassin´s Creed, que se passaria em seu país local, e na época da revolução francesa, mais especificamente nos anos de 1780 a 1790.
A promessa era que a recriação da França seria impecável, com escalas 1:1 e grandes multidões nas ruas. Quando foi lançado em 2011 a decepção foi gigantesca.
Assassinos desgastados
A série demonstrava sinais do cansaço causado pelos lançamentos frequentes e anuais, além da superexposição da marca, que até uma fragrância de colônia recebeu. O game tinha um personagem que tentava emular o carisma dos antecessores mas sem sucesso, resultando em um rapaz aborrecido e sem muito a adicionar. Além de todos problemas narrativos e do gameplay massante, burocrático e repetitivo, o jogo era repleto de bugs e erros que atrapalham totalmente a experiência do jogador. Nem mesmo seu modo online robusto foi capaz de apagar o gosto amargo dos problemas que a franquia estava passando.
No ano seguinte a Ubisoft lançou Assassin´s Creed Syndicate. Um jogo infinitamente superior em narrativa, personagens e até mesmo na parte técnica, que se mostrou bem menos problemática que o anterior, mas nada disso foi suficiente para recuperar a confiança dos jogadores na série. Apesar do grande sucesso, Syndicate teve vendas abaixo do esperado pela grande Francesa, que decidiu que era o momento de dar um passo para trás, rever alguns conceitos e deixar a franquia respirar.
Fôlego retomado
Dois anos foi o período que a Ubisoft deixou os assassinos respirarem e foi o suficiente para voltarem renovados, inspirados e cheios de energia. Assassin´s Creed Origins foi lançado em 2017 e mostrava a origem do clã dos Assassinos, no Egito. Passando por locais históricos como Alexandria e até mesmo contando com Cleópatra no elenco, o game recuperou a confiança dos jogadores e se tornou um grande hit para a desenvolvedora.
Desenvolvido pelas filiais de Montreal e Milão da Ubisoft, o game adicionou elementos de RPG com fortes inspirações nos sucessos The Witcher 3, Dark Souls e Bloodborne, inclusive todos eles servindo como base para o combate, que evoluiu bastante em relação aos anteriores. Travar nos inimigos e defender no momento certo deixou as lutas bem mais suaves e divertidas.
Um rolê pelo Egito
A narrativa que brinca com momentos históricos, os recontando como se, de forma secreta e obscura, os assassinos ajudaram nos grandes momentos da humanidade continua sendo o ponto chave da franquia. Em Origins também encontramos um dos melhores protagonistas da série e toda a história vai além.
Bayek de Siuá é um Medjai, uma espécie de policial do povo egípicio que os ouve e os ajuda em seus problemas, sejam eles corriqueiros como transportar algo pesado entre dois lugares, ou mais intensos, como vingar a morte de um primogênito de uma família pelas mãos de um romano.
O protagonista é muito mais que o bom samaritano ou garoto de recados que é costumeiro em jogos do estilo. Bayek é humano, apesar de suas habilidades sobre humanas de escalada e combate. O personagem possui sentimentos comuns a todos nós e é a melhor parte do game. Seja em seu amor intenso por Aya ou na motivação que o leva a perseguir uma gangue de vilões por todo Egito, é possível se identificar com o rapaz e comprar a briga junto.
Explorar para conquistar
Vasculhar as cidades em busca de tesouros e pessoas precisando de ajuda para resolver seus problemas é gratificante e fazemos porque acompanhar aquele personagem é divertido e não só por causa dos números que fazem o nível aumentar. Ficar curioso com algum caso e ir descobrir o que se esconde por trás das tramas é recompensador, principalmente porque conseguimos sentir o que Bayek sente. Em alguns momentos expressamos alguma reação sobre algo e logo em seguida o protagonista diz exatamente o que pensamos. Muitas vezes esses sentimentos são raiva, ódio ou tristeza, já que o game não se preocupa em só mostrar o lado bom das coisas, ao contrário, faz questão de escancarar crueldades cometidas ao povo egípicio e exploram muito bem a violência em prol da narrativa.
Paisagens e oásis virtuais
Ainda com inúmeros problemas técnicos, algo bem padrão dos games da Ubisoft, Assassin´s Creed Origins demonstra melhora em relação aos anteriores, já que durante todo o meu gameplay não encontrei nenhum bug que me impediu de avançar no game ou de apreciar a beleza de seus cenários.
Beleza essa que está incrível. Independente da plataforma que jogar, os visuais são belíssimos. O cenário do Egito favorece paisagens deslumbrantes que misturam a imensidão do deserto com estruturas gigantescas como as pirâmides e até mesmo a famosa esfinge, que ainda possui seu nariz na época.
Os locais com folhagens possuem densidade e transmitem realismo, mas o que mais impressiona é a água. Elemento desafiador no mundo dos games em 3D desde que os primeiros jogos poligonais surgiram, a água de Assassin´s Creed Origins é de uma beleza única. A Ubisoft mostra que evoluiu bem seu motor gráfico e já deixou o terreno preparado para que os novos capítulos da franquia pudessem brilhar ainda mais.
Sem romantizar o período, Assassin´s Creed Origins coloca o jogador no Egito na época do Reino Ptolemaico por volta de 49 a.c. e respeita o período retratado. Com a população egípcia sendo bem representada em suas cores de pele, traços característicos e idioma. Mesmo que a língua principal do game seja o inglês, ou português caso você escolha a versão localizada para nosso idioma, as frases ditas pelas cidades são no idioma original da época e é bem curioso buscar o significado do que é pronunciado, já que essas expressões soltas não possuem legendas.
Dois anos foi o suficiente para a francesa Ubisoft conseguir colocar Assassin´s Creed no eixo. Se a série serviu de inspiração para muitas outras no passado, dessa vez foi na busca por inspirações de outros games que eles conseguiram encontrar um novo rumo. Um dos melhores protagonistas da franquia nos passa carisma e humanidade, fazendo com que o jogador se identifique com sua causa e avance no game para conhecer os desdobramentos da história e não apenas para encher a barra de experiência e melhorar seu nível.
Preparando o terreno para os capítulos seguintes, Odyssey e Valhalla, que expandem ainda mais os conceitos vistos em Origins, o game de 2017 é obrigatório para os fãs de longa data, mas se mostra perfeito para aqueles que querem entrar para a franquia, então se dê um salto de fé na jornada de Bayek e Aya que é certo que não vai se arrepender.