• Alta Taxa de Juros no Brasil: Os Desafios para a Economia e seu Impacto no seu bolso

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    Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

    Para facilitar seu entendimento sobre o assunto que aparece no título desta coluna, vou contar uma história primeiro. Imagine que você é responsável por cuidar de todas as finanças da sua casa (talvez você até seja, de fato). Você percebe que está pagando todas as contas em dia e, mesmo assim, sobram R$ 3.000 ao final de todos os meses. Sabendo disso e vendo que o carro da família já está muito velho, você considera fazer um financiamento para trocá-lo por um novo, onde o valor da parcela ficaria em R$ 2.500 mensais. Ao perceber que seria possível fazer a compra e ainda sobrariam R$ 500, você decide sair com um carro novo da concessionária.

    Embora essa seja uma história fictícia, você provavelmente já passou por algo parecido, ou então, no mínimo, consegue imaginar tal fato acontecendo com você ou com alguma família que você conhece. Por isso, com as informações que você tem até aqui, convido-o a responder a si mesmo: esse foi um bom negócio?

    Já adianto que foi um péssimo negócio. No entanto, mesmo que você tenha dado a mesma resposta que eu, você errou caso não tenha feito a seguinte pergunta: qual é a taxa de juros?

    No exemplo que mostrei, trata-se de um financiamento em 60 parcelas com juros de 2,08% ao mês (não é difícil encontrar bancos que cobram taxas ainda maiores). Nessas condições, você compraria um automóvel de R$ 85.243,18, mas pagaria com juros um valor total de R$ 150.000, ou seja, quase o dobro do valor.

    Em outras palavras, se você fosse tomar uma decisão racional lá no início da história, você deixaria de fazer o financiamento ao saber do volume de juros que pagaria e optaria por outras formas mais acessíveis de conseguir seu veículo. No entanto, muitas vezes, nós tomamos decisões com base na parcela que “cabe no bolso” e deixamos todo o resto de lado.

    Mas o que tudo isso tem a ver com a taxa de juros no Brasil?

    Bem, a taxa SELIC, ou Taxa Básica de Juros da Economia, é uma das formas que o Banco Central do Brasil tem para controlar a inflação no país. Por isso mesmo, a cada 45 dias, o Banco convoca uma reunião para decidir se mantém, aumenta ou diminui essa taxa. E esses movimentos da SELIC buscam influenciar diretamente como você compra produtos e serviços, de modo que a inflação no país fique em níveis aceitáveis. Mas você pode se perguntar: de que forma isso acontece?

    Voltando ao exemplo do financiamento do carro, em teoria, você desistiria de comprar o carro (caso o financiamento fosse sua única opção) por perceber que os juros estão muito altos e, assim como você, outros milhões de brasileiros tomariam a mesma decisão. Com isso, a venda de carros no país cairia e obrigaria as montadoras a baixarem o preço, fazendo com que a inflação diminua.

    No entanto, na prática, nem todos os brasileiros pensam dessa forma. Mesmo com os juros altos, muitas pessoas tomariam a decisão de comprar o carro ao perceberem que conseguem pagar as parcelas do financiamento, e provavelmente você já deve ter escutado frases como: “só se vive uma vez” e “se não fizer isso não consegue comprar”.

    E é justamente por isso que, no Brasil, é especialmente difícil para o Banco Central controlar a economia de maneira eficiente, pois muitas vezes o problema da inflação está em nossa cultura, especialmente na forma como fechamos negócios. Não é à toa que, infelizmente, grande parte da população tem o nome negativado no SPC ou SERASA, sendo muitas dessas pessoas vítimas do próprio pensamento que descrevi no parágrafo anterior.

    O fato é que estamos sendo forçados a viver por muitos meses em um cenário em que a taxa de juros no Brasil está muito alta e, consequentemente, isso impede empresas de fazerem novos investimentos, gerarem emprego e renda, aumenta o endividamento público do país e diversos outros malefícios que nem preciso comentar, uma vez que você percebe no seu próprio bolso.

    No entanto, na economia “não existe almoço grátis”. Se simplesmente baixarmos a taxa de juros de maneira indiscriminada, poderemos gerar ainda mais inflação e fazer com que nossos salários consigam comprar ainda menos, prejudicando sobretudo os mais pobres.

    Como você já deve ter concluído, não existe uma resposta simples para o que fazer com a taxa de juros no Brasil. E esse dilema não é exclusivo daqui, uma vez que países do mundo todo têm enfrentado a mesma dificuldade. Porém, como já foi dito, a inflação no Brasil vai muito além de modelos econômicos e cálculos estatísticos, a origem dela está na forma como aprendemos a lidar com dinheiro, tanto pela falta de educação financeira quanto pela cultura enraizada em nossas próprias famílias.

    Do seu ponto de vista e do ponto de vista de sua família, agora é o momento de cautela, de pensar bem antes de fazer novas despesas, de tomar cuidado ao tomar empréstimos e de evitar cair em bolas de neve. Já da perspectiva do país, o Banco Central, o governo e os técnicos precisam deixar a discussão política de lado (que é o que mais vem ocorrendo) e pensar no país de maneira coletiva, por meio da análise dos dados, do comportamento da população, de discussões e da cooperação entre os órgãos públicos, para que possamos, o quanto antes, de maneira saudável e planejada, reduzir a taxa SELIC e, consequentemente, melhorar diretamente a condição de vida de milhões de famílias que hoje estão prejudicadas.

    *As opiniões de nossos colunistas não necessariamente refletem a opinião da Folha de Barbacena

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