8 ou 80
Por Marcos Faria
Quando engrenei no curso de Filosofia eu ainda era muito jovem, sem maturidade para compreender muitos temas e as vezes nem lidava com a devida atenção que mereciam. Aquela energia toda era muito seletiva, algo me não me agradava? Ficava de lado, já aquilo que me interessava? Podia render pesquisas extras e um furor pedagógico assustador.
Claro que isso é muito comum e até normal em todos nós, mas isso me rendeu uma reflexão dupla, sobre a atitude em si e a filosofia por trás disso.
É muito comum nos deparamos com a ideia de que “Não me dou pela metade”, “Comigo é oito ou oitenta”, “tenho personalidade forte” etc. Conceitos que acabam sendo álibis para atitudes extremas, muitas vezes mascaradas como algo positivo, como expressão de uma personalidade forte.
Mas as vezes você não tem personalidade forte, pode estar só sendo mal-educado mesmo, MUITAS vezes você pode não estar sendo só intenso, pode apenas estar sendo burro mesmo.
Essa história de “Oito ou oitenta” me remete ao que considero uma das sabedorias mais antigas do mundo, vista em várias culturas como na filosofia grega, precisamente com Aristóteles (384/322 a.C.) que sustentava a virtude da “temperança”. Em suma, na vida existem situações muito mais complexas do que reduzir as nossas atitudes em preto e branco, a coragem certamente é uma virtude, contudo, qual é a linha tênue que separa a bravura da imprudência? Ou melhor, qual o limite da coragem e uma atitude burra que possa pôr a sua vida em risco?
Aristóteles defendia que havia uma espécie de “justa medida”, esta por sua vez é a moderação da ação entre os dois extremos e isso que resulta verdadeiramente na virtude.
E se você parar para pensar, isso é óbvio! O que em excesso pode ser bom para alguém? Qualquer coisa que você pense por melhor que possa parecer, se você refletir vai encontrar no excesso dela um desfecho prejudicial e ainda sim, por que é tão comum encontrar a ideia de que algo em excesso seria bom?
Obviamente refiro-me mais às atitudes humanas do que coisas concretas em si, mas da mesma maneira que se entupir de chocolate pode lhe dar problemas físicos a curto e longo prazo, ser emotivo ou racional demais também terão desfechos negativos.
Não é estranho supor que grande parte de nossas angústias e tristezas advém da nossa incapacidade de equilibrar nossas emoções. Nesse sentido, ser demasiadamente emotivo ou racional não vai ser bom, se por um lado eu sofro mais por conta de sentimentos, por outro eu posso estar deixando de viver a sútil graça de certas coisas por racionalizar demais, então o que seria mais interessante?
Certamente é aproveitar os dois lados da moeda e libertar-se dessa ideia de oito ou oitenta …