Monotonia
Por Isabella Paolucci
O dia não começou diferente dos outros. Os mesmos fones de ouvido, os mesmos pensamentos a respeito das inúmeras histórias mirabolantes que carrego na cabeça, o mesmo caminho, a mesma cidade. A música toca alta conforme sigo meu caminho em direção àquele lugar de sempre e olhando ao redor percebo que já me acostumei a essa harmonia que os grandes prédios e as ruas movimentadas me trazem.
Ainda que minha infância esteja distante, consigo ver todos os diferentes nuances que agora enfeitam a paisagem. Aquela loja da esquina não estava ali quando eu passeava por essas ruas segurando firme em minha mãe em um passado não tão distante, aquelas pessoas não seguiam seus caminhos vidrados em uma tela, completamente alheias ao que acontecia ao seu redor. Observo todas essas diferenças e, ainda que tudo pareça tão desigual ao que já foi um dia real, são pequenos detalhes que ainda me mostram que sua alma ainda é a mesma.
Alma sim, formada por cada pessoa que aqui vive e transita, cada pessoa que já esteve aqui, mas agora não está mais. E através dessa alma, formada por inúmeras singularidades e diferenças, todas as visitas que um dia tivemos guardam um pouco do que se passou e do que se foi vivido, de alguma pessoa especial, já que esse lugar está cheio delas.
Ao mesmo tempo também olho frustrada para todas as coisas que precisavam de mudanças, mas ainda permanecem as mesmas. Olho ao redor e penso nas noites em que a busca por algo novo se perde em cores cinzentas neste tempo de isolamento, em que os dias parecem nunca passar. Neste momento me sinto presa, privada de uma liberdade que uma vez já tive, mas agora não pode ser concedida não só a mim, mas a todas as partes desse lugar que um dia abrigou tanta luz.
Eu costumava ir e vir todos os dias, mas vivemos todos um momento em que ficar é o correto, ainda que não o mais agradável. E assim me torno uma parte daqui, tal qual os prédios que permanecem fixos em um só lugar.
E neste momento penso que se amor e ódio fossem a mesma palavra, eu poderia dizer que odeio essa cidade da qual nunca antes tive vontade de sair, ainda que me fossem oferecidas oportunidades.
E provavelmente se me oferecessem novamente eu negaria.
Engraçado como aprendi a amar todo esse ódio causado momentaneamente, não? Já que eu não escolheria outro lugar para ficar presa se não aqui, que é o meu lar.
Então acho que se amor e ódio fossem a mesma palavra, eu poderia dizer que na verdade amo essa cidade que jamais deixaria, pois ela é o cenário de todas as minhas melhores histórias.
E agora então chego à conclusão de que o ódio na verdade é apenas frustração por não poder vê-la em seus dias gloriosos e brilhantes, dias esses que eu espero que logo voltem apenas para poder passar pelas ruas do centro e, respirando fundo conforme ando pelas praças sempre cheias, essa cidade se torna novamente aquela que eu conheci.
Aquela que é ao mesmo tempo tão similar e tão distinta da que me foi apresentada na infância.
Aquela que eu não quis deixar para trás.
Aquela que não aguento mais.