• Oi!

    Por Marcinho Ribeiro

    Esses dias, eu meio que estava pensando…

    Sabe, quando você vai entrar no ônibus e bate aquela dúvida: “Será que eu tenho dinheiro para pagar a passagem? E se eu estiver perdido? E se o meu bolso estivesse furado? MEU DEUS! E SE A PASSAGEM FICOU MAIS CAR?”. Só que aí, você entra e está tudo normal, tudo igual, até o cobrador é o mesmo. – Eu ando tanto de ônibus, que já tenho até intimidade com o cobrador, o chamo de “Jão”, e o nome dele é “Ramon”. – Parando para pensar aqui, eu crio intimidade muito fácil, me falou um “oi”, eu já quero ser amigo para o resto da vida. O pior é que tem amizade que dura muito pouco; uma vez fiz amizade com um cara no ponto de ônibus, contei tudo da minha vida pra ele, emprestei dinheiro e tal, foi um momento único. O ônibus dele chegou, ele entrou e eu nunca mais o vi. Lembro-me até que havíamos combinado um chopp, e eu nem bebo.

    – Nos encontramos qualquer dia desses. – Disse ele enquanto subia as escadas e cumprimentava o motorista. Nunca mais nos vimos. Eu até voltei no mesmo ponto, mas, ele não estava lá. Eu nem quero ‘taaaanto’ ver ele assim! Só quero meu dinheiro de volta. Está certo, foi só R$3,45, mas com isso eu consigo pagar uma passagem.

    A passagem está cara, né? Você percebe isso, quando fica na dúvida se come uma coxinha, ou se vai de ônibus. Em que mundo estamos, onde você fica na dúvida entre comer e ir andando? Se for parar para pensar, vai ver, comprar uma coxinha é até melhor, você come, coloca as calorias em seu corpo e depois vai andando para perder tudo. – É um toma lá, dá cá.

    Falando nisso, eu meio que, preciso fazer dieta. A dona da lanchonete, já me conhece. Até me chama pelo nome. Sei que é educação, mas é triste quando ela pergunta: “O mesmo de sempre?”. Cara, nem eu sabia que eu era tão previsível assim. Esses dias, eu virei e falei: “Não! Hoje eu quero sem catupiry”. Aposto que foi um choque pra ela, EU SEMPRE PEDIA COM CATUPIRY.

    Mas, é que nós precisamos mudar às vezes, sabe? Sair da zona de conforto, meu pai, por exemplo, mudou o lado dele no sofá para assistir os jogos. Ficava sempre deitado sobre o braço esquerdo, agora deita sobre o braço direito, no início foi desconfortável, mas agora você vê que ela já está começando a acostumar. Daqui uns dias, vai ter que assistir sentado. Pequenas mudanças.

    Mudar faz bem. Minha vizinha quando mudou pra longe de mim, me fez um bem que você não tem noção. Nossa não aguentava mais! Os incomodados que se mudem. Vai ver ela é ela, que não me aguentava mais. Porque assim, nunca devemos falar que todo vizinho é chato, é ruim, é aquilo e coisa e coisa e tal, porque se temos vizinho é sinal, que também somos vizinhos de alguém, ou seja, não devemos generalizar. Alguns vizinhos são chatos. Pronto! Até, tem vizinho que é gente boa, minha vizinha, por exemplo, a que mudou, nossa, agora que ela não é mais vizinha, a adoro.

    Todo mundo tem vizinho, né? Tem vizinho que mora longe tem vizinho que mora perto, tem vizinho que você não vê (esses são os melhores). Eu um dia fui a um lugar, roça, adoro roça. Eu morei na roça a minha vida toda, uma maravilha, quando cheguei à cidade, aquela mudança… Mudança boa para meus vizinhos é claro, e estranha pra mim. A primeira coisa que me assustei, foi quando vi o preço da conta de água. – Como assim, eu tinha que pagar água? Agora não podia mais desperdiçar passando horas no banho? MEU DEUS! Onde eu morava, água vinha da nascente. Nunca tinha pagado água antes. – Nossa! Os choques da vida.

    Na cidade as pessoas não se conhecem, é engraçado. Se você for à roça e perguntar para minha mãe ou meu pai onde mora o ‘Jão das Couve’ (Nome fictício que eu coloquei aqui para não mencionar ninguém. João das Couve, se você estiver lendo, não é você. É outro). Eles além de saber onde ele mora, ainda vão te falar de todos os vendedores de couve da região. “Olha, se o Jão não estiver lá, no caminho tem a Marlene antes da igreja, primeira casa à esquerda. A couve dela também é boa”. Na cidade não tem nada disso. Esses dias, o motorista de entrega de uma empresa que vende móveis, parou o caminhão ao meu lado e me perguntou: “Opa, bão ou não? Sabe onde mora o Jão das Couve?” Eu falei: O queee? O João está morando aqui? – Foi sensacional! Deu ruim, foi pro João que agora está comprando couve da Marlene.

    Ninguém conhece ninguém. Minha vizinha do prédio ao lado, uma senhora gente fina, sempre que eu estou saindo, todo dia, ela fala que eu estou sumido – “Não aparece mais menino, tá sumido” – Acho que na verdade, ela nem sabe quem eu sou. Só me cumprimenta, porque eu cumprimento de volta, me falou um “oi”, eu sou amigo o resto da vida.

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