Se o meu texto falasse
Autor Desconhecido. ‘Tô’ zoando eu sou um texto de Marcinho Ribeiro.
Eu sou só um texto! Um texto que começou a ser escrito em um grupo de WhatsApp criado por meu autor com só ele mesmo. Depois ele abriu o WhatsApp Web, me copiou e me colou em um documento de Word em seu computador. Digamos, que sou um texto moderno, um ser autossuficiente (Se você, não sabe o que é autossuficiente, lhe convido a pesquisar na Internet. Viu, sou tão moderno, que mandei você pesquisar na internet e não no dicionário.) VIVA A MODERNIDADE. Ou como dizia Raul Seixas, “Viva a sociedade alternativa”. Se eu, pudesse ser outro tipo de texto, talvez eu iria querer ser…. um texto escrito com pena. – As famosas Canetas- Tinteiro. – Aquelas, que eram mergulhadas em tintas e depois com a ponta molhada, virava belas palavras em um papel. Eu iria tirar muita onda! Iria olhar para os textos de hoje e falar “Ei, ou, eu fui feito à mão. Sou um manuscrito. Sou Raiz. Seu Nutella”. Ia tirar muita onda!
‘Cê’ acha, que eu não olho para os textos de Machado de Assis e não fico com inveja? Cara, meu autor é o Marcinho Ribeiro. Quem é Marcinho Ribeiro na fila do pão perto de Machado de Assis? Quem é? Se eu fosse de Machado de Assis, eu iria olhar para os outros textos e falar: “Ei cara, todo mundo já me leu na escola. Eu fiz parte da vida acadêmica de todo mundo. Aqui é #teamcapituebentinho, ‘tá’ ligado? Eu faço parte disso. A maior dúvida dos clássicos, será que ela traiu, ou não traiu. Eu sei a resposta! Chupa!”. Eu ia tirar muita onda! Ainda bem que não nasci assim. Seria insuportável! Eu ia olhar para os textos de Luiz Fernando Verissimo e falar “Quem é O Nariz perto de O Alienista? Aqui é Machado de Assis”… Eu ia tirar onda! Ainda bem que eu não nasci assim, pelo menos posso fingir que sou humilde.
E se eu pudesse ser outra coisa. Talvez seria um filme, um filme clássico, sabe? Que todo mundo já viu. Algo do gênero de Titanic ou o Auto da Compadecida. Se eu fosse Titanic, eu nem ia deixar o navio afundar, ou se, caso eu mudasse de ideia, eu pelo menos iria colocar a Rose e o Jack em cima da porta no final do filme. Tinha como os dois sobreviverem, a porta cabia os dois. Viu, é por isso que eu sou texto. Se eu fosse filme, não teria furo de roteiro. No Auto da Compadecida, eu não deixaria o João Grilo voltar dos mortos, todo mundo sabia, que ele iria continuar na mentira. Mas se bem, que a Virgem Maria era a Fernanda Montenegro, ela pode, tudo, né? Tinha seus motivos e a “carne era fraca”. Ainda bem que eu sou um texto. Imagina se eu fosse um filme? Eu ia tirar ainda mais onda, rapaz. E você seria o que?
– Você está me perguntando?
Sim, estou!
– Você sabe que nessa altura da história. Você vai acabar confundindo a mente dos leitores.
E daí?
– Cara. Não fala assim! Ele são seus leitores. Isso não é normal é a primeira vez que um texto conversa com o próprio autor. Te confesso que estou até honrado.
Eu também ficaria honrado em conversar comigo. Sou foda! Sou um texto meu irmão. Mas aqui, me conta como é me escrever?
Estou sendo entrevistado pelo meu texto? ‘Tá’ de sacanagem. Te escrever é fenomenal cara… Foi uma experiência incrível.
Eu sei disso. Sou incrível. Mas aqui, me conta, é verdade que você já confundiu a palavra autor, com altor? Colocando o L no lugar do U?
–
Vai responder não ô …. ‘Tá’ Passada?
– Vai ficar me zoando mesmo? Se eu soubesse que seria assim. Nem tinha começado a te escrever. Quer saber, tomara que ninguém te leia!
Se ninguém me ler, serei só mais um fracasso seu.
É por isso que eu queria ser um texto de Machado de Assis, um texto culto com personagens maravilhosos, falas bem escritas, história que prendem o leitor, suspense, um pouco de ‘ora’, ‘trago-te’, ‘Viveras a ver, teu eu em mim’. – Aquele português bonito de 1840. – Era por isso! E não um texto do Marcinho Ribeiro.
Nota do altor (Viu? Ele realmente troca o U pelo L).
– Se o meu texto falasse. Ele seria chato.