As algemas que eu não preciso
Por Sara Ribeiro
Nunca foi um mar de rosas para mim lidar com a obesidade, mas já estou muito bem resolvida com ela, arrisco-me a dizer que muitos me amam pelo que sou e me odeiam pelo mesmo motivo.
Sou o tipo de pessoa que consegue funcionar sob pressão, críticas, pois tenho a mania de ter fé nas pessoas, de que elas vão se tornar mais amáveis e que o convívio será de fácil envolvimento.
Sou muito grata a todos que passaram na minha vida e mesmo que de forma estranha e conturbada tenham acrescentado algo.
Mas eu também quebro a cara, encontro pessoas muito duras, ou mal amadas, ou cheias de si que tem a constante mania de inferiorizar as outras, seu trabalho, sua aparência e diminuir suas conquistas pessoais e profissionais a troco de se sentirem por um segundo melhores, ou o centro de sua própria bolha.
Acabei descobrindo que não tem nada de errado comigo, que eu poderia fazer mais e tudo bem se eu não fizer também.
Tomei muitas decisões erradas, já foi incutido a mim que perder peso pode ser excelente e que a indústria do bem estar é “maravilhosa”. Mas eu sou mais do que isso tudo, sou um ser humano, dotada de inteligência e racionalidade e sei quando uma coisa está querendo ser implantada assim como também sei a hora de dizer não.
E não dá pra se investir no que não se tem sem deixar de perder ou arriscar o que tem.
Novamente reforço, não sou acomodada em questão de nada e de ninguém, ao contrário, tem uma parte de mim que jamais será recuperada em questão de crescer rápido demais.
Sou muito amável com todos e quero que essa qualidade de acreditar nas pessoas jamais me falhe e que a cada dia que passe eu possa ser mais e mais compreensiva e voluntariosa e estender a minha mão com todo meu coração e generosidade, pois nem dinheiro, promessa ou o corpo dos sonhos vai roubar de mim, a minha essência.
Ouvi que os covardes fogem por ser mais conveniente a eles e isso foi dito diretamente a mim por alguém a quem estimo e tenho como exemplo de superação, mas tomo posse dos dizeres de Martin Luther King:
“A covardia coloca a questão: ‘É seguro?’
O comodismo coloca a questão: ‘É popular?’
A etiqueta coloca a questão: ‘é elegante?’
Mas a consciência coloca a questão, ‘É correto?’
E chega uma altura em que temos de tomar uma posição que não é segura, não é elegante, não é popular, mas o temos de fazer porque a nossa consciência nos diz que é essa a atitude correta.”
Eu conheço muito da dor, da humilhação, das críticas, do fracasso e não, em momento algum preciso aguentar esse tipo de atitude. Não preciso de uma lavagem cerebral para implantar em minha mente que tudo pelo qual estou enfrentando são meras desculpas.
Já era tempo de me libertar de vez das algemas e da corrente.
Liberte-se.