Brasil em ascensão: Por que a mudança na perspectiva de classificação de risco é uma boa notícia para todos?
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Se você é uma pessoa que costuma acompanhar notícias na TV ou internet, é provável que tenha visto em algum lugar uma matéria falando sobre a mudança da perspectiva de classificação de risco do Brasil de ‘estável’ para ‘positiva’, realizada pela agência global Standard & Poor’s (S&P). Em resumo, isso significa que o Brasil pode estar caminhando para uma diminuição de seu risco nos próximos anos, o que é benéfico para o país e os brasileiros. Mas se você não é economista, pode ser que tenha se perguntado: é benéfico em que? E o que isso muda na minha realidade?
Para entender melhor esse conceito, vale trazer um exemplo prático que em algum momento pode ter feito parte da sua vida. Imagine que você tem um sobrinho (conhecido por ser desorganizado e irresponsável) que apresenta uma ideia ‘revolucionária’ de negócio: abrir uma padaria em uma rua próxima de sua casa, onde já existem outras duas padarias. Mas, para isso, ele precisa que você invista dinheiro no negócio dele para garantir que a ideia saia do papel.
Provavelmente você já deve ter concluído que esse investimento não é um bom negócio. Afinal, investir em um novo negócio já é arriscado, e, nesse caso, há uma forte concorrência na região, além do seu sobrinho não ser exatamente o melhor ministrador.
Nessa situação, o que você prefere: investir no negócio arriscado do seu sobrinho ou se tornar sócio de uma das duas padarias que já estão no mercado há anos e contam com um gestor experiente? Acredito que você já saiba a resposta! E também já deve ter percebido que, nessa história, o Brasil é a padaria do seu sobrinho.
Bem, esse é um exemplo do cotidiano; porém, quando falamos de países, é preciso que haja uma organização independente o suficiente para avaliar o risco de cada país sem qualquer interferência. Esse é o papel de empresas como a S&P.
Agora que você viu a função da S&P, podemos falar sobre a finalidade dessas avaliações e, posteriormente, sobre o impacto disso em sua vida.
Finalidade do rating de crédito do Brasil
Voltando ao exemplo da padaria, você tomou sua decisão porque tinha acesso a todas as informações necessárias sobre o investimento e condições para fazer sua própria análise. No entanto, quando falamos de países, as coisas não são tão simples.
Se sua decisão tivesse que ser entre investir no Brasil ou na Índia, provavelmente você ficaria feliz em ter acesso a uma nota de crédito que mostrasse se esses dois países são bons pagadores ou não e quais são as chances de você receber o valor investido. Dessa forma, ao saber desse risco, você não só poderia escolher um país como também poderia determinar quanto esperaria obter de retorno do seu investimento em cada um deles, dado o risco que você corre. Assim como no caso da padaria, talvez você decidiria investir mesmo com o risco se soubesse que o potencial de retorno é muito alto.
Apesar de parecer uma ideia simples demais para ser real, é exatamente isso que investidores de todo o mundo fazem. Por isso mesmo, a nota de crédito do Brasil influencia diretamente o volume de investimentos que recebemos em nosso país.
Hoje, nosso país tem uma nota BB- junto à S&P, o que significa que a agência classifica o Brasil como ‘grau especulativo’, ou seja, na visão da empresa, o Brasil não tem a saúde financeira necessária para ser considerado um país atrativo para receber investimentos. O grande problema é que isso gera um efeito dominó, pois qualquer empresa brasileira, por melhor que seja em termos financeiros, receberá fora do país uma nota de crédito equivalente à do Brasil. O resultado disso é que, assim como acontece no exemplo da padaria, as empresas brasileiras precisam oferecer juros mais altos para conseguirem crédito em dólares. Além disso, o próprio país precisa oferecer juros mais altos para conseguir financiar a dívida pública e trazer dólares para o país.
A mudança da perspectiva do Brasil para positiva pela S&P significa apenas que a agência pode melhorar a nota do Brasil nos próximos anos, caso o cenário econômico por aqui não piore.
Mas e na prática? Como isso muda a minha vida?
Bem, como já vimos, quando o país tem uma nota ruim, tanto o governo quanto as empresas encontram dificuldades para se financiarem e precisam oferecer juros altos para compensar o risco. O resultado disso é que as empresas deixam de investir, gerar empregos, riqueza e arrecadação de impostos para pagarem mais juros. E, por outro lado, o governo, além de perder arrecadação, gasta muito mais com juros da dívida pública e deixa de gastar com saúde, educação, segurança, investimentos públicos, etc. Além disso, como há menos entrada de dólares no país, a cotação da moeda aumenta, logo, todos os produtos, desde o trigo do pão até o diesel do caminhão e seu celular, ficam mais caros.
Como podemos ver, uma boa nota de crédito não apenas é boa para o Brasil e os brasileiros, como também a falta dela gera consequências econômicas que afetam seu emprego, suas despesas e todos os serviços básicos que você usa.
Então, como podemos melhorar a nota do Brasil?
Vale lembrar que o objetivo da avaliação da S&P é classificar o risco de se investir no Brasil, e grande parte desse risco tem ligação direta com decisões políticas. Ou seja, quando o governo gasta mais do que arrecada constantemente, não busca controlar a dívida pública, não é transparente em suas ações e não gera previsibilidade na economia, consequentemente o risco do país aumenta.
Logo, entre outros fatores, uma das principais formas de garantir que o Brasil volte a ter a posição de ‘grau de investimento’, que não tem desde 2008, é fazer com que o governo gaste de maneira consciente, tome decisões técnicas e não baseadas somente em agradar seus eleitores, e discuta, edite e aprove reformas (tributárias, previdenciárias, administrativas, etc) à medida que elas se tornem necessárias ao longo dos anos. Afinal, o mundo e as pessoas mudam constantemente, logo os governos precisam mudar também e se adaptar às novas realidades à medida que elas surgem.
O que você pode fazer pelo país?
Fiscalize, cobre, debata e analise políticas e políticos de maneira técnica, considerando o que você acredita que é bom ou não para o país. Afinal, toda e qualquer lei é feita por seres humanos, e estes são falhos. Então, por melhor que sejam as intenções, políticos erram e acertam todos os dias!